A
Seleção Brasileira, mito de Sísifo e filósofo Leonardo Boff
Presenciamos
o jogo da seleção contra a Croácia de modo assustador. O Brasil
começou jogando nervoso, e aos poucos foi se soltando, tendo a
triste surpresa de levar um gol, mesmo que contra, em descuido de
Marcelo. Por outro lado, vimos o gol na sorte de Neymar e uma
esperança da virada, ainda com uma ótima atuação de Oscar e
Paulinho. A seleção está com a defesa arrumada. Mas falta muito
para almejarmos a taça.
Mas
vimos erros de passe e contra-ataques do adversário, o que me
lembrou do mito de Sísifo, onde um homem carrega uma pedra redonda
nas costas montanha acima, deixando que ela role pra baixo, a fim de
levar novamente. Também me lembrou a filosofia de Leonardo Boff, uma
vez que nossa seleção era a dimensão água, que tem ampla visão,
e a da Croácia a dimensão galinha, a qual ciscava sem ter um
atacante.
No
geral o jogo não foi o dos mais belos, mas ganhamos. Se a seleção
jogar feio e ainda ganhar, estaremos felizes. Muitas vezes não é o
que mais belamente joga que ganha. Talvez o belo jogo da Espanha, ou
o bom esquema tático da Alemanha não tenham efeito, se não
ganharem. O que vale é o gol, que é o elemento teleológico do
jogo. Sem ele não basta fazer jogo bonito. E já cumprimos nosso
papel, nesse aspecto simbólico de nossa Seleção, lembrando mais
uma vez Boff. Pois tivemos um time que jogou unido, e mesmo Neymar já
falou em coletiva que se vê como “mais um”. Nas duas Copas
anteriores tínhamos um estrelismo, que entrava de salto alto e não
mostrava essa humildade, o que agora é positivo.
Mas
a Seleção continua carregando uma grande pedra em campo. Joga
pesado, apesar de tudo. Depender de gol onde goleiro falha, pênalti
que não ocorreu, é por demais arriscado. Outro árbitro teria dado
cartão amarelo a Fred. Foi clara simulação e na sorte conseguimos
virar o jogo. Fato é que a montanha é maior, e que não se pode
comparar a Copa América, a qual foi meio barbada. Temos ainda por
vezes uma divisão, o que Boff chama de dia-bólico, e isso separa os
atletas a ponto de errarem passes e fazerem aqueles lançamentos
longos que saem pela linha de fundo. Felipão talvez não veja que
nem sempre é bom deixar o time muito avançado, uma vez que a defesa
está aberta pelas laterais. A Croácia jogou muito livre e apenas
não fez mais gols por defesas de Julio César e porque não tinha
atacante. Devemos reconhecer que somos águia, ou mesmo outra ave
nacional, para vermos amplamente esses aspectos, antes que nas
oitavas ou quartas tenhamos de chorar a perda.
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