O Brasil
volta a ser Brasil, e lição da causalidade de Hume
Desde
que o técnico Tite assumiu a seleção, vimos um time que não mais
parece o mesmo. Passou a ganhar jogos e já quase programa comprar a
passagem para a Rússia, para a próxima copa do mundo. Após a
vitória do ouro das Olimpíadas, a camisa amarela superou qualquer
causalidade, que antes era o fato de um time ruim perder. David Hume,
um dos pensadores empiristas, dizia que não há essa causalidade,
pois acreditamos mais em fatos, e o amanhã não pode acontecer o que
antes ocorria. A causalidade então nos desafiou, aprovando as
reflexões de David Hume.
O embalo
parece ter ocorrido primeiro com os jovens nas olimpíadas. Apesar de
criticados pelos torcedores, que pediam Marta nas arquibancadas,
homenageando a também boa seleção de futebol feminino, mas que por
fim não teve o resultado esperado. Mais uma prova da causalidade que
nos engana. Isso pode se aplicar a crise econômica: hoje estou em
crise, e amanhã estou inesperadamente próspero. Isso lembra ainda
Parmênides, que disse que o Ser é e o não ser não é. Pensava a
torcida que o time masculino era um “não ser”, e que o feminino
era bom. Talvez eles ligaram, como fez Platão, o belo ao bom. Mas
não ocorreu. E nos piores momentos que se mostrou a planta ser
forte, pois as raízes podem não ser belas, como lembrou Alain de
Botton sobre Nietzsche, em sua obra. Que nem dizia Aristóteles, “em
algum lugar alguém merece a minha confiança”, mesmo tendo errado
em algum lugar. Assim foi com Tite, ele tinha confiança na seleção,
mesmo todos já perdendo a esperança. E vimos dois bons jogos, com
vitórias.
Nos dois
jogos a seleção brasileira jogou bem, tirou o ar dos adversários.
Tite saiu de um time vencedor para tornar outro. Assim vemos que não
basta fama, se tem de ter resultado. O time tem boa marcação, bem
como volta alguma animação em dribles de jogadores. Gabriel Jesus
está se destacando, e os jogadores começam a ter sintonia. Um gol
sai até de jogada ensaiada. Isso ensina a todos nós, que mesmo com
o time perdendo, ou seja, a crise na vida, pode amanhã ou desde logo
vencer. O time cobre os espaços do campo, não se vê mais a
confusão anterior. Antes havia o caos. Estavam que nem os átomos
antes da ordem, de Demócrito. Mas a perseverança no erro que é uma
loucura, como disse Zenão. Assim mudamos de técnico e colhemos bons
frutos. Pois antes havia uma alternância entre professores que não
entrosaram o time. E o que antes era efeito da causa, nos mostrou ser
apenas uma crença ou fato, como ensinou Hume.